Requerimento da CPI da Copa é devolvido por falta de assinaturas

Sete deputados e quatro senadores retiraram o apoio à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os investimentos para a Copa 2014, inviabilizando a sua instalação. Na data limite para o apoio, o pedido de abertura da comissão contava com apenas 24 assinaturas de Senadores e 179 de deputados. Com isso, o requerimento não atingiu o mínimo exigido pela Constituição – 27 senadores e 171 deputados.

O presidente da Mesa do Congresso, o senador Renan Calheiros, fez o anúncio durante a sessão conjunta do Congresso Nacional nesta terça-feira (20).

O requerimento será devolvido ao autor, deputado Izalci (PSDB-DF). De acordo com o requerimento, a CPI mista tem como objetivo apurar, no prazo de 180 dias, os fatos e responsáveis por possíveis irregularidades no uso de recursos públicos federais nas obras de infraestrutura da Copa do Mundo de 2014.

No final do mês passado, Izalci havia anunciado as assinaturas de 186 deputados e 28 senadores. Não foram divulgados os nomes dos parlamentares que retiraram suas assinaturas.

Originalmente publicado em Jogos Limpos: http://goo.gl/yki6Wj

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Câmara tem quase 1,4 mil supersalários

Dados da Casa apontam para corte de R$ 78,5 milhões nos vencimentos de servidores. Salários ultrapassam os R$ 28 mil por mês. Órgão diz que outras irregularidades foram sanadas com plano de carreira de servidores.

A Câmara dos Deputados possui 1.370 servidores, entre ativos e inativos, recebendo vencimentos acima do teto constitucional, os chamados supersalários, ou seja, mais de R$ 28 mil brutos por mês. De acordo com dados da Diretoria de Recursos Humanos da Casa, repassadas ao Congresso em Foco, eles são responsáveis por um gasto anual irregular de R$ 78,5 milhões.
Destes, 676 são funcionários ativos. Isso significa que 19% dos cerca de 3.500 servidores efetivos e ativos da Câmara estão em situação ilegal, fato já demonstrado por relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) há três anos.

O número de funcionários com vencimentos irregulares é maior do que apontou auditoria feita pelo TCU em 2010. Na época, os auditores da corte de contas encontraram 1.111 servidores recebendo supersalários. É com base neste levantamento que os ministros decidiram, por maioria dos votos, mandar a Câmara cortar o valor excedente em até 60 dias. O tribunal, porém, não aceitou a devolução dos R$ 2,5 bilhões pagos a mais nos últimos cinco anos, como sugeriram os auditores do TCU.

O teto do funcionalismo público atualmente é de R$ 28.059,29, valor recebido mensalmente pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Na época da auditoria, o prejuízo anotado chegava a R$ 517 milhões com o pagamento de salários e outras irregularidades na folha. No entanto, de acordo com a Diretoria Geral da Câmara, os problemas foram sanados com a aprovação do plano de carreira dos funcionários.

Na folha salarial de agosto, aparecem 676 servidores ativos e 694 inativos recebendo salários acima do teto constitucional. De acordo com a Diretoria Geral da Câmara, os funcionários ultrapassam o limite constitucional por conta das funções comissionadas adicionadas ao vencimento bruto. Os servidores ativos custam R$ 34,8 milhões a mais por ano e os aposentados R$ 43,7 milhões.

A Diretoria Geral ainda informa que os maiores salários estão relacionados com servidores da ativa que recebem funções gratificadas por inteiro, que giram em torno de R$ 8 mil. No total, são 270 funcionários que terão o adicional cortado na íntegra, enquanto os 406 restantes sofrerão um desconto gradual no salário.

Ao portal G1, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), afirmou que orientação é para analisar o caso de cada funcionário e observar as atuais regras. Em reunião com o diretor-geral da Casa, Sérgio Sampaio, o peemedebista pediu que as folhas fossem analisadas e que não houvesse apresentação de recurso na Justiça.

Ou seja, a expectativa é que assim que a Câmara for notificada a decisão seja cumprida. O TCU deu um prazo de 60 dias para a Casa executar o corte. Além de supersalários, foram identificadas irregularidades como a remuneração com dois tíquetes, o acúmulo ilegal de cargos públicos e jornadas de trabalho, elevação irregular de padrão salarial, pagamento ilegal de gratificações e bônus por participação em comissões.

Fonte: Congresso em Foco

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Mantida cassação do prefeito e vice de Itápolis-SP

Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negaram, na sessão desta terça-feira (20), recurso apresentado por Júlio César Nigro Mazzo, prefeito reeleito de Itápolis-SP em 2012, e seu vice José Luiz Hawachi contra decisão que multou e cassou os seus registros de candidatura por fazerem propaganda institucional em período proibido pela legislação eleitoral, enaltecendo a imagem do candidato à reeleição, em jornal oficial da prefeitura. Júlio César Mazzo foi eleito prefeito com 56% dos votos válidos.

O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) multou e cassou os registros dos candidatos por entender que Secretaria de Governo, ligada diretamente ao prefeito, publicou e fez distribuir de julho a setembro de 2012, em período vedado pela legislação, edições do jornal oficial do município. Além de notícias de caráter informativo, o TER paulista entendeu que o jornal continha publicidade de obras e serviços da administração de Júlio Nigro Mazzo, promovendo a sua imagem.

De acordo com o TRE, tais publicidades, veiculadas sempre abaixo das informações iniciais no jornal, divulgavam obras e serviços da prefeitura, como nova iluminação pública, compra de máquinas para prefeitura, entre outros, visando enaltecer a administração e a imagem do prefeito, apesar de não citarem seu nome ou fazer referência à candidatura ou eleição.

Entre as condutas vedadas aos agentes públicos pelo artigo 73 da Lei das Eleições (Lei nº 9.504/97) está a que proíbe, nos três meses que antecedem as eleições, a autorização de publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da Administração Indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral.

Relator do recurso do prefeito cassado, o ministro Henrique Neves votou pelo seu acolhimento por entender que não se poderia imputar ao prefeito a responsabilidade sobre a redação e publicação do jornal oficial da prefeitura que estava a cargo de uma Secretaria de Governo. O relator informou que sequer o responsável pela Secretaria na época estava incluído na ação movida pela coligação Itápolis Pode Mais contra o prefeito e seu vice.

“Para que o agente público venha a ser sancionado [pela conduta vedada], é essencial que tenha ele autorizado a propaganda institucional, sem o que se estaria estabelecendo uma responsabilidade objetiva que decorreria da mera existência da propaganda”, disse o ministro em seu voto.  
   
O ministro Henrique Neves informou ainda que, segundo os autos do processo, o jornal oficial de Itápolis sempre foi publicado pela prefeitura, inclusive em anos anteriores, não sendo sua divulgação algo excepcional naqueles meses de 2012. O voto do relator foi acompanhado pela presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, e pela ministra Luciana Lóssio.     

No entanto, o ministro Marco Aurélio divergiu do voto do relator e rejeitou o recurso por entender que a publicidade institucional estava proibida no período em que o jornal oficial da prefeitura foi divulgado. “E é muito sintomático que se deixe para fazer publicidade de atos, de obras e serviços e campanhas neste espaço de tempo e no período crítico de três meses que antecedem as eleições”, disse o ministro.

Os ministros Dias Toffoli, Laurita Vaz e Castro Meira também negaram o recurso.

EM/LF  – Processo relacionado: Respe 40871

Fonte: TSE

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Justiça recebe denúncia do MP contra empresas que praticaram fraudes contra a Prefeitura de SP

A 8ª Vara Criminal da Comarca da Capital recebeu no último dia 12/08, denúncia criminal pela prática de crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha formulada pelo  GEDEC – Grupo de Atuação Especial de Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos- contra os sócios-gerentes da empresa Consladel Construtora Laços Detetores e Eletrônica e os sócios das empresas de fachada ContConstrol Construção Civil Ltda e DF Locação de Equipamentos para Construção Ltda, decorrentes de fraudes em contratos com órgãos da Prefeitura Municipal/SP.

A denúncia imputa condutas configuradas como lavagem de dinheiro praticadas pelos denunciados  sócios-gerentes constituintes e responsáveis pela empresa Consladel Construtora Laços Detetores e Eletrônica , por dissimularem, entre os anos de 2002 e 2009, de forma continuada, através de transferências bancárias e utilização de empresas de fachada – ContConstrol Construção Civil Ltda e DF Locação de Equipamentos para Construção Ltda, a natureza, a origem e a localização de valores, provenientes indiretamente de crimes contra a administração pública municipal/SP, em especial corrupção ativa e corrupção passiva – em contratos fraudulentos.

Fonte: MPSP

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OAB vigiará gastos públicos

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) instituiu ontem uma comissão nacional de controle social dos gastos públicos, que vai atuar em todas as subseções do país, em mais de 3 mil municípios. O anúncio foi feito durante o seminário "Por um Brasil Transparente", que ocorreu na sede do Conselho Federal da entidade, em Brasília. O principal debate foi a implantação da Lei de Acesso à Informação, que completou um ano na semana passada.

O presidente da Ordem, Marcus Vinicius Furtado, afirmou que a comissão verificará os municípios que não estão respeitando a Lei 12.527/2011. Em um primeiro momento, os prefeitos serão oficiados para cumprir a legislação. Caso não o façam, a OAB promoverá ações judiciais contra eles. “Os advogados serão agentes de cobrança do acesso à informação e controle dos gastos públicos”, afirmou Furtado.

Os especialistas que participaram do debate, ao lado do controlador-geral da União (CGU), Jorge Hage, e do ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Luis Inácio Adams, destacaram o avanço permitido pela nova lei, mas apontaram inúmeros problemas e resistências em relação ao seu cumprimento. Conforme dados da CGU, apenas 8% dos 5.564 municípios, entre os quais somente 10 das 27 capitais, regulamentaram a lei, definindo as regras específicas de implantação em cada um deles.

“Precisamos lutar pelo cumprimento integral da Lei de Acesso à Informação. Aqueles que não respeitarem devem ser responsabilizados, inclusive, na esfera criminal de improbidade administrativa, por violarem direitos fundamentais do cidadão”, defendeu o professor de direito administrativo Rafael Valim, da Pontifície Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

Ele teme que os municípios restrinjam o acesso aos dados públicos. Observou que o mau exemplo vem de órgãos de controle, ao citar o Tribunal de Contas da União (TCU), que hesita em disponibilizar em seu site dados sobre o itinerário e os gastos das viagens dos ministros da Corte. A forma de divulgação dos salários dos integrantes do tribunal também não permite que os dados sejam tratados e analisados em uma planilha do tipo Excel, como manda a Lei 12.527/2011.

O economista Gil Castello Branco, que preside a ONG “Contas Abertas”, destacou que as dificuldades para os municípios atenderem a lei “serão enormes”. Ele lembrou que, no próximo dia 27, os 4.958 municípios no Brasil com até 50 mil habitantes deverão estar com os respectivos portais da transparência funcionando na internet.

Fonte: Correio Braziliense – 23/05/2013

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O acesso é para o cidadão

Por Marcelo Soares*

Em 2008, tive a honra de visitar Malmö, na Suécia – a cidade onde nasceu e morreu a avó de minha avó. Ao visitar o arquivo público municipal, em menos de
meia hora tinha em mãos os documentos manuscritos que registravam sua partida para o Brasil; sua volta à cidade, 17 anos depois; e sua morte, de um misto de tuberculose e meningite pegas no navio, pouco depois de aportar em sua terra. Uma breve busca num banco de dados publicamente disponível me permitiu
localizar exatamente onde está seu túmulo. 

A Suécia foi o primeiro país do mundo a ter uma lei de acesso a informações públicas, 130 anos antes de dona Carolina Olsson emigrar. Por causa disso é que os arquivos são organizados o suficiente para que, cem anos após sua morte, um tataraneto curioso possa rastrear seus passos. Depois do pioneirismo da Suécia, mais de oitenta países criaram suas leis de acesso a informações públicas antes de o Brasil dar efeito à sua. 

Esse é o mais importante direito fundamental pouco conhecido pela maioria. O acesso a informações públicas permite obter dados para exercer direitos – dos mais amplos, como o direito a conhecer a história do país, aos mais pessoais, como conhecer melhor uma parente que o curioso não teve a satisfação de conhecer. Geralmente, quando se falava em acesso a documentos do governo, a referência imediata costumava ser a dos papeis da ditadura militar. Claro que é importantíssimo acessá-los para resgatar a história do Brasil – ainda que o Arquivo Nacional tenha baixado uma ordem pra só liberar documentos sobre pessoas caso o curioso obtenha informações por escrito.

Os primeiros meses de vigência da lei de acesso no Brasil, porém, mostraram que não é apenas para conhecer o passado que serve uma lei assim. Uma lei que garanta o direito de acesso a informações públicas serve antes de mais nada para o cidadão saber o que está acontecendo AGORA. Ou o que aconteceu há pouco tempo. É apenas com essa urgência que os direitos bem-informados se podem fazer cumprir.  Essa observação entrou muito timidamente no debate público antes da criação da lei – falava-se em “lei que permite ver documentos sigilosos” (não é o caso; documentos dentro do prazo de sigilo ainda não são públicos), por exemplo. 

Ainda assim, o cidadão captou a mensagem tão logo a lei passou a valer. Boa parte dos pedidos de informação diz respeito a salários dos servidores públicos.
E aí, começaram as reações corporativistas a essa mudança de cultura. No Senado, por exemplo, colocou-se no site uma tela de consulta por nome do servidor, onde você só pode ter acesso a dados se tiver de cabeça o nome de um dos 6.364 servidores da Casa (sim, é o equivalente a 78 servidores por senador). Um terço deles, aliás, está em “regime especial de frequência” – ou seja, não precisa bater ponto, tal como a playmate Denise Rocha Leitão antes de ser exonerada.

Tribunal após tribunal reconheceu que a informação dos salários dos servidores é pública. Atendendo a contragosto à determinação, os órgãos públicos resolveram impor a barreira do cadastro e informar aos consultados. O que é um perigo.

Para baixar os dados completos no Senado (e não só), você precisa preencher um formulário, informando seu nome, o endereço da sua casa e o seu CPF. O IP do seu computador também fica registrado. Por que raios o Legislativo precisa saber seu endereço para dar informações pela internet? Simples: para intimidar os curiosos.

Isto consta do ato interno que regulamentou o fornecimento de informações da Câmara:

Art. 7º Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações da Câmara dos Deputados, por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação do requerente e a especificação da informação requerida.

•  5º Dar-se-á ciência a deputado ouservidor sobre teor de requerimento de acesso à informação no qual tenha sido nominalmente identificado.

Ou seja: tudo o que você perguntar sobre um deputado ou servidor específico, ele vai ficar sabendo. Se você for jornalista, pode estar revelada sua pauta. Se você for um opositor, estará exposto a pressões. Dependendo da informação pedida e do canto do Brasil de onde for o deputado, estará exposto até a ameaças ou coisa pior.

“Descobri que uma ex-namorada minha pesquisou meu salário”, disse um amigo que trabalha no Senado. “Não gostei de saber disso, mas paciência; é o direito dela.” Um amigo que trabalha num órgão público de Porto Alegre teme pela segurança de sua família – e se bandidos pesquisarem sua vida financeira? (Pessoalmente, tendo a pensar que os bandidos preferem mirar quem dá sinais externos de riqueza, como carrões – o que claramente não é o caso dos amigos. Duvido que um bandido requisitaria informações públicas para escolher potenciais alvos.)

Ao tratar qualquer curiosidade como potencialmente criminosa, porém, o corporativismo dos órgãos públicos procura matar no nascedouro a cultura de informações públicas que mal e mal estamos começando a ter. Dias depois de eu publicar essa observação, veio à tona a triste história de Weslei Machado, servidor público, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao consultar remuneração de servidores ao acaso, uma se irritou. Levantou seus dados de contato e entrou numa batalha verbal com o consulente.

Esse tipo de medida vai completamente contra o espírito da lei de acesso a informações públicas, porque não protege a privacidade de quem consulta informações que o poder público é obrigado a fornecer. Na Câmara, existe o mesmo tipo de medida.

Pessoalmente, acredito que a divulgação dos salários dos servidores prejudica muito, mas muito, menos a segurança do servidor do que a exigência de identificação prejudica a segurança do curioso. No caso de Weslei Machado, houve basicamente uma desinteligência. Mas imagine, por exemplo, o que fariam nas regiões de faroeste do Brasil a quem consulta informações sobre os proprietários de fichas sujas de sangue.

O poder ainda está acostumado àquela lógica do sigilo que só colabora com o velho jogo de Super-Trunfo entre governo e oposição. Um lado chantageia o outro com o que sabe. A grande arma é a ignorância do cidadão. Enquanto o cidadão não sabe, governo e oposição ficam felizes no seu grenal. Quando o cidadão fica sabendo, é um auê. Perceba: o cidadão saber é considerado punição, não regra. E, quando se determina a obrigação de contar ao cidadão, os órgãos públicos fazem de tudo para intimidar os curiosos.

O problema da lógica do sigilo é que a escuridão faz fermentarem grandes problemas, que só aparecem quando estão grandes demais para serem resolvidos.

Na Suécia da minha tataravó, até os e-mails de autoridades são considerados documentos públicos e desde 1998 podem ser requisitados por qualquer cidadão. Cada vez em que abro o jornal e vejo um novo escândalo envolvendo funcionários contratados sabe-se lá para quê usando influência política para emplacar autoridades que beneficiarão sabe-se lá quem, lembro daquela terra gelada.

*Marcelo Soares, é membro da equipe de Novas Plataformas da Folha de S.Paulo e membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).

 Artigo publicado originalmente em MPD Dialógico – Ano VIII – nº39: http://www.mpd.org.br/img/userfiles/file/Dialogico39_FINAL_bx.pdf

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A Lei de Acesso e o falso conflito entre a transparência e privacidade dentro do Estado

Por Fernando Rodrigues*

Há um sofisma na praça desde a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação Pública: a divulgação nominal de salários de servidores públicos e de outros detalhes funcionais seria uma afronta ao princípio constitucional do direito inalienável do cidadão à privacidade. 

É fácil desconstruir o argumento, que aliás é nocivo ao conjunto geral dos servidores públicos brasileiros. A Lei de Acesso à Informação, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 18 de novembro de 2011 (Lei 12.527, aqui disponível: http://bit.ly/leiacesso12527), produz uma garantia inaudita para a maioria dos funcionários do Estado que trabalham cotidianamente de maneira correta para tornar o Brasil um país melhor, mais justo, mais democrático e mais transparente.

Quando um cidadão se interessa em um cargo público, alguns fatores norteiam sua escolha. Vocação para servir ao Estado, benefícios da carreira que poderá seguir e salário são alguns aspectos considerados. Ao prestar o concurso, o cidadão sabe exatamente quanto vai receber de vencimentos no primeiro dia de trabalho. Mas não só o cidadão conhece essa informação. Qualquer outro ser humano, em qualquer parte do planeta, terá acesso ao dado se consultar o edital. 

E o que acontece em seguida? Em muitos casos, nada mais. O cidadão que passou no concurso público ingressa numa carreira dentro do Estado, trabalha de maneira digna e recebe de salário mensal aquele valor estipulado no edital que anunciou a abertura da vaga.

Mas quais são as exceções? Em muitos casos (e o Brasil está no curso de saber se, de fato, são exceções) uma série de benefícios impróprios são concedidos. O salário inicial se multiplica de maneira exponencial. Nessa fase, só o próprio servidor público e seus superiores têm conhecimento do que se passa. Ainda assim, o dinheiro usado nesses pagamentos continua a sair da mesma fonte: os impostos pagos por todos os contribuintes brasileiros. 

Após a promulgação da Lei de Acesso (no final de 2011) e sua entrada oficial em vigor (em maio de 2012), algumas propostas surgiram para que não fossem divulgados os salários nominais dos servidores públicos. No lugar, seria apenas colocada para conhecimento do público uma tabela com as funções de um determinado organismo do Estado e os vencimentos fixados para cada um dos cargos. 

Não é necessário ser muito perspicaz para concluir que esse procedimento apenas protegeria quem erra e deixaria exposto quem faz a coisa certa. O funcionário público que continuasse dentro do seu plano de carreira inicial e dentro das regras estipuladas teria o seu salário conhecido –ainda que de maneira indireta. Já o que obteve, sabe-se lá como, vantagens indevidas estaria protegido pelo manto opaco dessa tabela de cargos e salários genéricos.

Em resumo, o conflito sobre a privacidade é um sofisma porque todo cidadão sabe muito bem que ao ingressar no serviço público o seu salário será conhecido. Está estipulado em um edital. Por que não deveria continuar assim pelos anos seguintes de sua carreira? Não há razão objetiva para esse óbice. 

Argumenta-se também que em nenhum país do mundo há uma Lei de Acesso que determine tal grau de transparência para cargos e salários. Nos Estados Unidos, um dos países mais abertos do planeta, não existe essa prática generalizada para todos os órgãos e entidades estatais. É verdade que o Brasil pisou fundo no acelerador quando se trata de transparência sobre a remuneração dos servidores. Mas não ultrapassou nenhum limite de velocidade no que diz respeito à privacidade do cidadão. Ao contrário, a Lei de Acesso, como disse no início, protege a maioria do servidores que são honestos na sua missão dentro do Estado. A Lei de Acesso à Informação brasileira também se beneficia do fato de ter sido adotada tardiamente por aqui. Mais de 80 países já haviam aprovado tal legislação quando a regra passou a vigorar no Brasil. É natural que então sejam incorporados dispositivos ainda inéditos em outros lugares.

A transparência total sobre gastos do Estado, inclusive com os salários de servidores públicos, é um desses avanços que devem fazer o Brasil se orgulhar. E não tergiversar sobre invasão de privacidade, algo que nem de longe ocorre.

*Fernando Rodrigues é jornalista. Trabalha na “Folha de S.Paulo”, UOL, (http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br), rádio Jovem Pan (São Paulo) e rádio Metrópole (Salvador). É diretor da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), membro do Conselho Editorial da ANJ e também um dos coordenadores Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas (www.informacaopublica.org.br).

Artigo publicado originalmente em MPD Dialógico – Ano VIII – nº39: http://www.mpd.org.br/img/userfiles/file/Dialogico39_FINAL_bx.pdf

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Reforma dos políticos é apenas eleitoral, e não política

“É muito importante que os cidadãos mais conscientes fiquem atentos à verdadeira reforma política, que só tem condições de sair através das entidades da sociedade”

Aos poucos ficamos sabendo pelos noticiários o que andam aprontando nossos políticos em relação ao que está sendo chamado de “minirreforma eleitoral”. Apesar de a própria Câmara ter preparado o seu portal e-Democracia para receber sugestões dos cidadãos, parece que as coisas não vão ser tão fáceis assim. Pelos resultados das informações do portal, as principais reivindicações são pelo fim do voto secreto em todas as votações no Congresso e do voto livre nas eleições.

Também tivemos esta semana a divulgação da pesquisa MCCE/OAB, encomendada ao Ibope, que veio revelar que impressionantes 85% dos cidadãos entrevistados quer uma reforma política. O detalhe é que quase a totalidade dos participantes da pesquisa não quer o Congresso Nacional cuidando sozinho dessa reforma. Um firme percentual de 92% quer reforma política por meio de projeto de lei de iniciativa popular, e não lei originária dos nossos parlamentares.

Infelizmente, nossos políticos pensam de forma diferente e os termos da proposta em discussão no grupo de trabalho liderado pelo deputado Candido Vaccarezza (PT-SP) vão na direção de uma reforma apenas eleitoral e não política. Daí algumas “pérolas”, como um dos artigos que determina que um candidato não pode ser responsabilizado por crime praticado por integrante da campanha, salvo se provada sua participação intencional. Ou a “flexibilização” da comprovação de gastos de campanha, bastando, para isso, que o político apresente tais despesas na internet, sem necessidade de apresentar documentos comprobatórios.

Por essas e outras é muito importante que os cidadãos mais conscientes fiquem atentos à verdadeira reforma política, que só tem condições de sair através das entidades da sociedade. Por exemplo, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política está realizando até domingo a Semana Nacional de Coleta de assinaturas da Iniciativa Popular da Reforma Politica, com o seguinte alerta: “corremos o risco de o Congresso Nacional votar uma minirreforma eleitoral na contramão de tudo o que defendemos e acreditamos”. Acessem o reformapolitica.org.br e conheçam detalhes dessa proposta.

Também vale conhecer outra proposta vinda da sociedade, chamada de campanha Eleições Limpas, criada pelas mais de 50 entidades integrantes do MCCE. Essas duas propostas já foram comentadas aqui anteriormente.

Outra grande rede de organizações da sociedade civil, a Articulação Brasileira de Combate à Corrupção e a Impunidade (Abracci), composta por 54 entidades dedicadas ao monitoramento de governos e ao combate à corrupção, está lançando um firme manifesto contra a minirreforma eleitoral. Mais uma clara resposta da sociedade aos políticos que teimam em ignorar a chamada “voz das ruas”.

É nosso dever máximo de cidadania nos manifestar sobre uma reforma – seja política ou meramente eleitoral – que atente tão profundamente contra os princípios mais básicos da cidadania e da verdadeira representação política. Precisamos continuar de olho!

Originalmente publicado em Congresso em Foco.

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Audiência pública encerra XII Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida

Após 15 dias de caminhada marchantes dão continuidade aos trabalhos iniciados no sertão.

Por Lírian Pádua*

Na semana passada, dia 23 de julho, foi encerrada a XII Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida, organizada pela Força Tarefa Popular, que acontece todos os anos no sertão do estado do Piauí. A Marcha durou 15 dias, percorreu 150 km e passou por seis cidades e dois povoados.

O encerramento foi realizado em audiência pública na Câmara Municipal de São Raimundo Nonato, Piauí, última cidade por onde passou a Marcha. No evento estavam presentes dezenas de cidadãos, vereadores, integrantes da Rede AMARRIBO Brasil-IFC e da ABRACCI, representante da Transparência Internacional e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Nos próximos dias serão divulgados os relatórios referentes às cidades de Caracol, Jurema, Anísio de Abreu, São Braz e São Raimundo Nonato. Segundo o organizador da marcha, Arimatéia Dantas, a Marcha continua. “Depois do contato direto com a realidade e colhendo informações entramos na segunda parte da Marcha que será analisar o que foi visto e as denuncias recebidas. Um momento muito importante onde se formata decisões sobre o que fazer”, disse Dantas.

Para a representante da Transparência Internacional, Luciana Torchiaro, a Marcha é uma experiência impressionante e que deve ser replicada em outros países. “A corrupção aqui no sertão é muito grave e é desumana. Queremos levar a experiência da Força Tarefa Popular para todo o mundo”, revelou.

Na audiência foi apresentado um estudo realizado pela Transparência Internacional que mostra os custos da corrupção. Segundo Luciana, de 20 a 70% dos recursos investidos em água potável no mundo são desviados. “Com transparência e controle social esses desvios podem ser evitados”, ressaltou.

Durante a audiência foi entregue a denúncia sobre a situação de Guaribas – primeiro município visitado pelos marchantes – ao Chefe da Controladoria Regional da União no Estado do Piauí, Orlando Castro. De acordo com Castro, fiscalizar não é difícil. A orientação é para que o cidadão fique atento, anote as informações que constam na placa de uma obra e tire fotos, por exemplo. Além disso, ele ressaltou que os munícipes também podem encontrar informações no Portal da Transparência. “É importante que o controle social aconteça e que essas informações cheguem aos nossos olhos. Todas as denúncias apresentadas aqui serão devidamente apuradas”, comprometeu-se.

Para Orlando, o problema do Piauí não é carência de recursos financeiros. “Como cidadão fico impressionado com a quantidade de verba que vem do nosso Estado e como as pessoas continuam sem água, como as escolas continuam sem merenda, e os postos de saúde sem remédio. Por incrível que pareça não é por falta de recursos”, disse.

De acordo Nicole Verillo, da AMARRIBO Brasil, agora começa uma nova etapa da Marcha. “Iremos finalizar o relatório com todas as denúncias, enviar a todos os órgãos responsáveis e acompanhar. Também pretendemos dar continuidade a formação dos cidadãos das cidades em que passamos, fornecendo todo o apoio necessário para que eles sigam exercendo o controle social e garantindo a qualidade de vida em seus municípios”, disse.

Para Luciana, o controle social por parte dos cidadãos é fundamental. “O Brasil possui uma boa legislação, como a recente Lei de Acesso à Informação e a Lei da Ficha Limpa. Não faltam instrumentos, o que precisa ser feito é aplicá-los, colocá-los em prática através do exercício do controle social. É isso que a Marcha se propõe. “A transparência, sozinha, não é suficiente para se combater a corrupção. A participação cidadã e o controle social são fundamentais”, concluiu.

Para Arimatéia, o governo deve fazer uma campanha nacional que estimule e ensine a população a fiscalizar as contas públicas, hoje somente a sociedade civil organizada se preocupa com isso. “Iremos construir núcleos de fiscalização nos municípios para darem continuidade ao processo de controle social iniciado pela Marcha. Vamos articular com a ABRACCI, AMARRIBO Brasil, IFC e Transparência Internacional, uma audiência com a Presidente Dilma para apresentar o que vimos e denunciar diretamente a negligencia com o erário federal nos municípios visitados, propondo uma parceria mais direta dos órgãos como TCE, CGE e CGU com a população para a fiscalização”, relatou Dantas.

 

Luciana Torchiaro, representante da Transparência Internacional (Foto: Lírian Pádua) Arimatéia Dantas, coordenador da Marcha (Foto: Lírian Pádua)

 

Sobre a Marcha

A XII Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida é um movimento da Força Tarefa Popular, que envolve cidadãos, ONGs, sindicatos e toda a sociedade civil, visando promover o controle social e combater a corrupção. Neste ano, a marcha começou no dia 10 de julho e percorreu seis municípios do semiárido piauiense, dois povoados e diversas comunidades no sul do Estado. O tema escolhido foi a Seca.

Durante a caminhada os ativistas encontraram irregularidades e mau uso do dinheiro público, como construções  inacabadas, Câmara de Vereadores fechadas, furtos de caixas d'água públicas, obras abandonadas e até livros didáticos de 2013 lacrados e abandonados, impedindo o acesso a estudantes.

Para o organizador da marcha, Arimatéia Dantas, é importante trazer para o debate público a ineficiência nas obras em relação à seca. "É muito cruel a forma como tratam o sertanejo, inviabilizando o acesso a água, como no caso das adutoras em que foram gastos milhões e estão paradas”, lamentou.

O intuito dos voluntários que caminham pelas cidades do interior do Piauí é de fiscalizar obras, contas públicas e incentivar a população a fazer o controle social como forma de prevenir a corrupção. Somando todas as edições os marchantes já andaram mais de 2750 quilômetros. Este ano participaram da marcha, voluntários do Piauí, Brasília, Bahia, Ceará, São Paulo e até da Argentina.

Após a fiscalização em cada município, o grupo da Força Tarefa Popular apresentava aos moradores a situação da cidade e ministrava uma aula de cidadania, estimulando a população a fiscalizar os gastos públicos.

Veja aqui mais fotos da Marcha: http://migre.me/fDNnB

Distribuição livro "O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil" (Foto: Lírian Pádua)   Entrega do relatório de denúncias para a CGU (Foto: Lírian Pádua)

 

*Lírian Pádua é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalista e voluntária da ONG BATRA – Bauru Transparente, integrante da Rede AMARRIBO Brasil-IFC.

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Tangará da Serra dá exemplo de cidadania atuante

Em Tangará, um grupo de cidadãos decidiu fazer uma manifestação diferente contra a ineficiência do poder público nos trabalhos de conservação das ruas e estradas do município. O movimento “Até quando você vai ficar sem fazer nada?” criou uma série de adesivos bem chamativos, parecendo grandes curativos, que foram colados em buracos e rachaduras de calçadas da cidade.

Os “curativos” trazem diversas mensagens pedindo não apenas por mais ação do poder público em relação às ruas, mas também melhor acessibilidade para cadeirantes, carrinhos de bebê e pedestres.

Um dos organizadores do movimento, Pedro Homsi, afirma que essas demonstrações de insatisfação são fundamentais. Para ele, “todo e qualquer tipo de manifesto tem importância graças à pressão popular. Não podemos parar de manifestar mesmo que seja apenas em dupla ou sozinhos”.

Mas essa consciência não deve vir apenas dos governantes e gestores públicos. A sociedade também precisa participar. Aline Gramarin, também do movimento, acredita que a manifestação “não é somente para o poder público, mas também à sociedade que precisa manter suas calçadas sem rachaduras e buracos”.

Pois é essa consciência de cidadania demonstrada por Tangará da Serra que deve servir de exemplo para o resto dos cidadãos brasileiros. Cidadania não é apenas ter a consciência do problema. é preciso transformar consciência em conduta social. Isso significar participar diariamente, cobrar dos governantes a devida execução dos orçamentos, se organizar em grupos de monitoramento e controle social, e se aliar às instituições de Estado dedicadas à fiscalização e controle. Mas, acima de tudo, é procurar mobilizar outros cidadãos para que façam o mesmo.

Isto sim é a verdadeira cidadania, consciente e atuante, que será capaz de fazer a grande transformação que as manifestações nas ruas estão pedindo.

Originalmente públicado por A Voz do Cidadão: http://www.avozdocidadao.com.br/quintal_da_globo_330b.asp

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